Aspectos Psíquicos Da Síndrome Dolorosa Regional Complexa: Uma Leitura Psicanalítica

Abstract

A Síndrome Dolorosa Regional Complexa (SDRC) foi definida pela Associação Internacional para o Estudo da Dor (AIED) como sendo um distúrbio doloroso intenso e desproporcional aos achados clínicos do sujeito. Assim, a dor é decorrente de uma lesão, a qual é descrita como uma queimação que traz consigo alterações sensoriais, motoras e tróficas. A definição torna evidente que a descrição da síndrome prioriza aspectos biológicos e, concomitante a isso, deixa claro que não há base orgânica que justifique a dor. Desta forma, abre-se margem para algumas suposições, inclusive de ordem psíquica. Com efeito, embora a SDRC tenha seus estudos voltados ao corpo biológico e ao adoecimento físico, este trabalho a aborda a partir da perspectiva psicanalítica, tomando o corpo para além do somático. Dessa forma, a pesquisa tem como objetivo analisar nos pacientes com SDRC os aspectos psíquicos presentes nas narrativas sobre a dor, à luz da perspectiva psicanalítica. Para o alcance dos objetivos da pesquisa, foi realizado um estudo de campo, de cunho exploratório e natureza qualitativa por meio de uma entrevista clínica com pacientes com a SDRC. Tal escuta foi realizada em um comitê de dor presente em um hospital de alta complexidade em Urgência e Emergência, de nível terciário de assistência à saúde. Através das entrevistas, foi realizada uma análise temática, na qual foi possível perceber quatro eixos em comum que atravessaram o discurso dos participantes da pesquisa. Dentre eles, foi percebida a necessidade de um trabalho de luto, compreendendo as mudanças advindas com o fenômeno da dor, as perdas de papéis sociais e as mudanças no estilo de vida. Além disso, foi notória a dificuldade de falar de si, evidenciando o adoecimento como algo capaz de paralisar o sujeito e impossibilitar a nomeação do afeto vivido, o investimento libidinal do adoecimento e o desinvestimento em outras relações de amor e, por fim, a ausência do reconhecimento do outro como potencializadora do sofrimento e a dor como forma de manter laços. Conclui-se que as pacientes trazem em suas narrativas aspectos relacionados ao sofrimento psíquico, o qual está presente devido ao desenvolvimento da síndrome, como também aspectos de sua história que podem ter potencializado a experiência de dor ou auxiliado para o seu enfrentamento. Os achados são importantes para poder direcionar os cuidados multidisciplinares para a dor e avançar em pesquisa para ampliar os conhecimentos na área.