Avaliação do índice cortical mandibular e do desenvolvimento da dentição por meio de radiografias panorâmicas em crianças com síndrome congênita do Zika vírus.

Abstract

Em 2015 o surto de Zika no Brasil causou grande preocupação devido à associação entre o aumento das infecções e uma ocorrência de microcefalia em recém-nascidos no estado de Pernambuco, a partir de outubro, o que levou o Brasil a declarar emergência nacional em saúde pública. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) e teve por objetivos avaliar e descrever as alterações orofaciais encontradas em radiografias panorâmicas de crianças com microcefalia proveniente da Síndrome Congênita associada à infecção pelo vírus da Zika (SCZ), descrever as alterações dentárias e possíveis alterações ósseas, levantando dados acerca das peculiaridades observadas nestas crianças e reunir informações relevantes que possam auxiliar na prevenção e execução do plano de cuidado desses pacientes. Para isso, o estudo foi conduzido com base em duas análises distintas. A primeira análise concentrou-se no Índice Cortical Mandibular, para identificar possíveis alterações na densidade óssea da mandíbula, utilizando a classificação proposta por Klemetti, abrangendo 14 radiografias panorâmicas de crianças diagnosticadas com SCZ e 30 radiografias de crianças normossistêmicas, totalizando 44 participantes. A segunda análise focalizou-se nos aspectos dentários, incluindo cronologia de erupção, forma e guias de erupção, sendo realizada em 13 crianças com SCZ e 26 crianças normossistêmicas, totalizando 39 participantes. Os dados foram analisados no software statistical package for the social sciences (SPSS) 20.0, no qual foram realizados os testes Exato de Fisher ou qui-quadrado de Pearson. Os resultados deste estudo apontaram um aumento significativo na frequência de mandíbulas classificadas como C2 em pacientes com 8 anos de idade do grupo caso (p = 0,002). Os resultados revelaram também diferenças estatisticamente significantes entre os grupos em elementos dentários específicos, como os dentes contralaterais 15/25, 13/23, 35/45, e os isolados 26 e 31, indicando formação radicular avançada no grupo caso. Além disso, observou-se uma maior tendência à presença de dentes supranumerários nos pacientes do grupo caso (p = 0,040). Em conclusão, o Índice Cortical Mandibular, conforme descrito por Klemetti, demonstrou-se uma ferramenta valiosa na avaliação das estruturas ósseas mandibulares em radiografias panorâmicas dos pacientes com SCZ. Esses achados reforçam a importância de estudos radiográficos detalhados em crianças com SCZ para compreender as peculiaridades orofaciais dessa condição e contribuir para o planejamento de estratégias preventivas e terapêuticas mais adequadas.