AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE SAÚDE BUCAL DE INDIVÍDUOS TRANSGÊNERO DO PROJETO TRAVES-TI E DA CASA DE ANDALUZIA

Abstract

O acesso à saúde bucal da população trans ainda é marcado por desigualdades e barreiras estruturais, resultando em maior vulnerabilidade e piores desfechos clínicos. O presente estudo teve como objetivo avaliar as condições de saúde bucal de pessoas trans e não binárias participantes do Projeto Traves-Ti e da Casa de Andaluzia, em Fortaleza (CE). Trata-se de um estudo transversal, configurado como um censo populacional com 23 participantes. A coleta de dados envolveu um questionário semiestruturado com informações sociodemográficas, de saúde geral e hábitos de vida, seguido de exame clínico intraoral conforme metodologia do SB Brasil 2023, aplicando os índices CPOD e CPI. Os dados foram analisados no software SPSS 25.0, com nível de significância de 5%. Observou-se uma predominaram mulheres trans e travestis (78,3%), com média de idade de 29,9 anos, baixa escolaridade e renda de até um salário-mínimo (60,9%). O índice médio de CPO-D foi 7,57, com predominância de dentes cariados, e quase todos apresentaram sangramento gengival. O uso de terapia hormonal esteve associado a mulheres trans e travestis (p=0,037), maior número total de dentes (p=0,045) e menor chance de consumo de álcool (p=0,005) e drogas (p=0,039). Indivíduos que buscaram atendimento preventivo apresentaram melhores condições de saúde bucal, com menor CPO-D (p=0,014), menos dentes restaurados (p=0,008) e mais dentes hígidos (p=0,045). Conclui-se que a população trans investigada apresenta condições de saúde bucal insatisfatórias e vulnerabilidades sociais que impactam diretamente o acesso e a manutenção da saúde oral. Tais achados reforçam a necessidade de políticas públicas inclusivas, de formação profissional humanizada e de ampliação do acesso à atenção odontológica integral e equitativa.