Ressonância da pandemia do COVID-19 na vida das famílias afetadas pela epidemia do Zika Vírus

Abstract

A pandemia causada pelo COVID-19 afetou a rotina da população mundial, especialmente a dos pacientes com doenças raras, como os portadores da Síndrome Congênita do Zika Vírus (SCZV). Estes foram classificados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como parte do grupo de risco, visto que podem apresentar comprometimento da função respiratória e/ou aumento do risco de aspiração. Esses pacientes, majoritariamente crianças, necessitam de terapias multidisciplinares estimulatórias de forma intensiva e frequente. Objetivo: Analisar as repercussões da pandemia do COVID-19 na vida das famílias afetadas pela epidemia do Zika vírus. Foi um estudo de caráter quantitativo e qualitativo, realizado através da aplicação de um questionário online com 13 questões, que foram respondidas pelos pais ou responsáveis pelas crianças com SCZV. As perguntas foram elaboradas usando o Google Forms® e enviadas via WhatsApp e E-mail. Este estudo utilizou uma pesquisa na web de acordo com as diretrizes fornecidas pelo Checklist for Reporting Results of Internet E-Surveys (CHERRIES). Os dados foram analisados utilizando o software SPSS versão 20.0 no Windows, com a aplicação dos testes estatísticos qui-quadrado e exato de Fisher. Um total de 178 famílias foram avaliadas nesse estudo. Dos sentimentos experienciados durante a pandemia, medo/ansiedade foi o mais citado (n=124, 69,7%) pelos responsáveis pelas crianças com SCZV. Dificuldades para manter terapias em casa foi citada por 111 (71,6%) cuidadores, 125 (70,2%) relataram receber benefício do governo e 84 (47,2%) citaram que tiveram a renda afetada durante a pandemia. A presença de hospitalização de 1 a 3 vezes com pneumonia ou alguma complicação respiratória (p=0,019) e ausência de sintomas de cansaço foram associadas a presença de medo durante a pandemia. A presença de algum sintoma gripal (p=0,010), em especial febre (p=0,030), e a redução da renda familiar (p=0,003) impactaram diretamente na dificuldade de realização da terapia em casa. A presença de pelo menos uma hospitalização (p=0,042) influenciou na prevalência de medo e a redução da renda familiar (p=0,006), como também na dificuldade de realização da terapia em casa. A pandemia impactou negativamente na vida dos portadores de microcefalia por Zika vírus, uma vez que alterou a rotina de atendimento multidisciplinar, pôs em maior risco a vida dessa população em estudo e teve ressonância desfavorável na condição financeira das famílias.