Avaliação da eficácia do laser de alta potência de diodo no tratamento cirúrgico de anquiloglossia em pacientes pediátricos em comparação à técnica convencional do bisturi: ensaio clínico randomizado, paralelo, triplo cego e controlado.

Abstract

A anquiloglossia pode impactar significativamente funções essenciais, como a amamentação, deglutição e o desenvolvimento maxilomandibular, tornando-se um problema relevante na prática clínica. O tratamento cirúrgico busca restabelecer a mobilidade da língua e melhorar a qualidade de vida do paciente. A utilização de lasers de alta potência tem ganhado destaque devido aos seus benefícios, como melhor controle hemostático e potencial efeito de fotobiomodulação. No entanto, estudos comparando alternativas de tratamento cirúrgico inovador aos métodos convencionais são escassos. O presente estudo objetivou avaliar a eficácia de utilização do laser de alta potência de diodo no tratamento cirúrgico de anquiloglossia em pacientes pediátricos. Trata-se de um estudo randomizado, paralelo, triplo cego e controlado, com bebês entre 0 e 6 meses, avaliados na clínica escola de odontologia do centro universitário christus, que foram previamente examinados clinicamente utilizando o protocolo bristol tongue assessment tool (btat), com pontuação entre 0 e 3, e, em seguida, alocados aleatoriamente em dois grupos, de acordo com o protocolo cirúrgico utilizado. A amostra do estudo foi composta por 40 pacientes em cada grupo. No primeiro grupo, foi realizada a incisão por meio da técnica convencional, utilizando lâmina de bisturi n°15 (grupo bis); no segundo grupo, a incisão foi realizada com o laser de alta potência de diodo (grupo lap). Os pacientes foram avaliados no pré, trans e pós-operatório imediato, com 30 minutos, 7 dias (d7) e 14 dias (d14), quanto ao grau de liberação e reposicionamento do freio, o impacto no processo cicatricial, a variação de massa corpórea, a dor perioperatória e a qualidade de amamentação. Foi adotado um índice de confiança de 95% para todas as análises estatísticas. Os dados clínicos iniciais, incluindo sexo, idade, tipo de alimentação e uso de bicos artificiais, não diferiram entre os grupos (p > 0,05). O grau de liberação e reposicionamento do freio foi satisfatório em ambos os grupos. Parâmetros inflamatórios, como dor e cicatrização, também apresentaram respostas semelhantes entre bis e lap, com redução da dor logo após o procedimento (p < 0,001) e melhora progressiva no índice de cicatrização de landry até o d14 (p < 0,001). No entanto, uma correlação negativa foi observada entre a energia empregada no lap e os sinais de cicatrização no d14 (r = -0,355; p = 0,027), sugerindo que a intensidade do laser pode influenciar negativamente a recuperação em longo prazo. A massa corpórea aumentou significativamente ao longo dos dias de avaliação, em ambos os grupos (p < 0,001), mas sem diferenças intergrupos (p > 0,05). A dor perioperatória apresentou redução logo após o procedimento (p < 0,001). Na análise da qualidade da amamentação, o grupo bis apresentou resultados superiores no d7, segundo as escalas latch (l), audible swallowing (a), type of nipple (t), comfort (c) e hold (h) (acrônimo (l) sugar, (a) deglutição audível, (t) tipo de mamilo, (c) conforto e (h) pega) ( latch) (p = 0,003) e infant breastfeeding assessment tool (ferramenta de avaliação da amamentação infantil (ibfat) (p = 0,024), embora ambos os grupos tenham demonstrado evolução positiva ao longo do período avaliado. Os resultados deste estudo indicam que ambos os métodos cirúrgicos foram eficazes no tratamento da anquiloglossia, promovendo melhora funcional e otimizando a amamentação. Apesar da semelhança nos desfechos clínicos e inflamatórios entre os grupos, a correlação negativa entre a energia do laser e a cicatrização demanda a necessidade de futuros estudos clínicos visando o estabelecimento de protocolos para a utilização das tecnologias emergentes.