Dependência digital e seus impactos no processo de ensino – aprendizagem em discentes de medicina: prevalência, fatores psicológicos e manifestações físicas

Abstract

A internet proporciona acesso facilitado a conteúdos educacionais e promove a interação entre alunos e professores, tornando o aprendizado mais dinâmico e acessível. No entanto, o uso excessivo das tecnologias digitais pode acarretar dependência digital, isolamento social e prejuízos à saúde mental e física. O presente estudo teve como objetivo investigar a prevalência da dependência digital e suas associações com autoestima e burnout digital entre estudantes de Medicina. Trata-se de um estudo transversal, descritivo e quantitativo, realizado com discentes do primeiro ao oitavo semestre do curso de Medicina do Centro Universitário Christus, em Fortaleza-CE. Foram aplicados questionários sociodemográficos, o Teste de Dependência da Internet, a Escala de Autoestima de Rosenberg e o Questionário de Burnout Digital. Também foram avaliadas manifestações físicas e psicológicas possivelmente associadas ao uso abusivo das tecnologias digitais, com análise de sua associação com a dependência digital. Os dados foram analisados por meio de estatísticas descritivas e testes inferenciais (teste t de Student, Mann-Whitney, qui-quadrado, Kruskal-Wallis e razão de verossimilhança). A amostra foi composta por 522 estudantes, com média de idade de 24 anos; 345 (66,1%) do sexo feminino, 469 (89,8%) solteiros e 106 (20,3%) com graduação prévia. O escore médio de dependência da internet foi de 40,7 ± 15,6, sendo que 122 estudantes (23,4%) apresentaram problemas ocasionais, frequentes ou significativos relacionados ao uso da internet. As manifestações físicas mais relatadas foram: prejuízo na qualidade do sono por 472 (90,6%) alunos; dores musculoesqueléticas por 336 (64,5%); cefaleia durante ou após o uso de mídias digitais por 343 (65,9%); queixas visuais por 351 (67,3%); dificuldade de concentração por 444 (85,1%) e dificuldade de interação social por 347 (66,5%). A classificação segundo o Teste de Dependência da Internet demonstrou diferença estatisticamente significativa entre os grupos de acordo com estado civil, autoavaliação do desempenho acadêmico, qualidade do sono, dor cervical, dorsal e lombar, cefaleia, queixas visuais, dificuldade de concentração e interação social. O escore médio de autoestima foi de 19,8 ± 6,0, e o escore total do Questionário de Burnout Digital foi de 62,6 ± 16,6. Um total de 131 estudantes (25,1%) apresentou escore de burnout acima do percentil 75 (≥ 74,8), e 124 (23,8%) apresentaram escore de autoestima inferior a 15, indicando baixa autoestima. Houve diferença significativa nos escores de burnout digital e seus domínios, bem como no escore de autoestima, conforme a classificação da dependência digital. Conclui-se que a prevalência da dependência digital entre os estudantes de Medicina é elevada, com impacto negativo em aspectos físicos e emocionais. Esses achados reforçam a necessidade de estratégias para mitigar seus efeitos no processo de ensino-aprendizagem. Este estudo contribui para a compreensão do fenômeno da dependência digital em estudantes de Medicina no Brasil, temática ainda pouco explorada na literatura científica.